– Ouvistes, senhores prelados e barões? – interrompeu Egas com viveza. – É um juramento de infante. O galardão que peço é que me deixeis seguir esta aventura da embaixada. Não podeis já refusar-mo.
– Seja assim pois – replicou o infante –, e a mãe de Deus e o santo apóstolo das Espanhas vos guardem do perigo, que voluntariamente buscais, meu bom cavaleiro.
Neste momento um pajem veio anunciar a chegada ao arraial de cem vilões da beetria de Britiande, oitenta frecheiros e vinte besteiros, cujos brados selvagens de guerra começavam a soar ao longe como um trovão rebombando no vale. O infante correu a vê- -los enquanto os do conselho instruíam o trovador da forma em que devia propor sua mensagem. Ao perpassar, Afonso Henriques apertou com força a mão de Egas, e disse-lhe em voz baixa:
– Egas, eu não quero perder-te! lembra-te do teu irmão de armas.
Daí a pouco tempo, o cavaleiro voltava para Guimarães, montado em mula robusta, e seguido de um pequeno pajem, que cavalgava o seu ginete de batalha, e de seis acobertados trajando saios e cervilheiras, tudo segundo o costume daquela época. Qual seria o tumulto de afectos que passavam pela alma do mancebo, facilmente suporá o leitor. Todos eles se resumiam num só: o de tornar a ver Dulce. Era este o único ponto que descobria no horizonte do seu futuro, e era este unicamente que ele queria descortinar. O resto pertencia à ventura.