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Capítulo 12: XII - A mensagem

Página 120

Entretanto nos paços de Guimarães o conde de Trava rugia de fúria e pesar. Pelo quarto de modorra fizera acometer por cem cavaleiros a pousada do Lidador e de alguns outros filhos-d’algo de Portugal, que supunha adictos ao moço Afonso Henriques. A morada, porém, do senhor da Maia estava deserta. Sabendo tal nova ele próprio correra ao Mosteiro de S. Salvador, ou de D. Muma, resolvido a arrancar com tormentos da boca do velho abade a revelação do lugar onde o rico-homem se escondera. Era impossível que Gonçalo Mendes houvesse escapado com os seus por meio dos vigias e roldas, e porventura Fr. Hilarião lhe dera acolheita. Com admiração dos monges e dobrado furor do conde a cela do reverendo abade estava deserta. Fernando Peres corria com olhos chamejantes as vielas estreitas e tortuosas do burgo. Na desesperação que o ralava, o seu primeiro ímpeto fora mandar decepar as cabeças a alguns simples cavaleiros que haviam sido presos, e muito a custo o generoso alferes-mor impedira este acto de inútil barbaridade. Burlado até na esperança de colher às mãos o audaz primo do senhor de Cresconhe, Egas, que ele supunha em Guimarães, e para achar o qual tinham sido vãs as mais severas pesquisas, a raiva do nobre conde de Portugal e Coimbra subira a indizível grau de violência.

O desfecho do drama, que se preparava havia tanto tempo, estava próximo: a tempestade acastelada no horizonte ia estourar enfim. Pela madrugada daquela mesma noite alguns espias chegaram trazendo a nova da aproximação da hoste inimiga. Segundo eles diziam a sua força era principalmente de peões: os concelhos tinham armado os homens livres e os de criação ou servos que habitavam nos povoados principais e nos alfozes ou aldeolas comarcãs. Os senhores de coutos e honras haviam na verdade trazido alguns besteiros de cavalo e de pé: mas as peoadas concelheiras formavam o grosso da mesnada, e entre ricos-homens, infanções, escudeiros, cavaleiros de soldo ou acostados, e almogaures, os homens de armas eram muito menos numerosos no arraial do infante que dentro dos muros e barreiras do castelo e burgo de Guimarães.

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pág. 120 (Capítulo 12)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 120

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173