– Ao que vim dir-vo-lo-ei, senhor Fernando Peres de Trava – respondeu Egas.– Pelo antigo foro dos nobres homens de Espanha e pelo foro dos Francos; como filho de um barão leonês e como filho de um barão de Borgonha; por uso e lei de aquém e de além-serras, toca a herança da honra de Portugal ao mui ilustre infante D. Afonso. Não venho em nome de rebeldes. Ricos-homens e infanções, burgueses e vilões desta boa terra me enviam dizer à mui excelente rainha, e a vós, senhor de Trastâmara, conde de Trava, prestameiro do Castelo de Faro, nobre homem de Galiza, que de ora avante o filho do conde Henrique é o senhor de Portugal. D. Afonso oferece a sua mãe os direitos, vilas e caracteres do infantático, e a vós livre passagem para o solar e honras de vossos antepassados. Dói-me também, senhor conde – acrescentou o cavaleiro –, de ser eu quem vos houvesse de trazer tão desagradável mensagem.
– Acabastes? – interrompeu Fernando Peres com voz presa e um leve tremor de lábios.
– Ainda não – prosseguiu Egas Moniz. – Devo também declarar- vos que, se recusais a paz, amanhã diante deste castelo, ou sobre os seus próprios muros, se pelejará brava lide, lide que durará até que o juízo de Deus resolva de que lado está a justiça, de que lado a iniquidade.
– Mais nada? – perguntou de novo o conde com um sorriso indizível de escárnio.
– Só uma cousa, senhor conde de Trava – respondeu o cavaleiro com alguma perturbação. – A vós e à rainha era dirigida esta mensagem. Vós tende-la ouvido: resta que ela a ouça. Ser-me-á permitido falar-lhe?