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Capítulo 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais

Página 126

– Antes disso, cavaleiro – replicou o conde, em cujo rosto transparecia a luta que tinha consigo mesmo para conter o furor que lhe cintilava nos olhos –, antes disso cumpre advertir-vos uma cousa. Conheço-vos: de sobejo vos conheço eu! Mas não basta vosso simples testemunho e vosso ar altivo para vos crermos mensageiro do mancebo Afonso Henriques, que se intitula senhor e infante de Portugal; mensageiro dos ricos-homens, infanções e concelhos que dizeis vos enviaram. Quem pode afirmar que um homem é o que parece? Muitas vezes motivo oculto obriga o cavaleiro a vestir as bragas de almáfega e o zorame de burel do peão; muitas vezes o vilão ousa trajar o saio escudado de cavaleiro, e pôr sobre a cabeça o capelo de ouropel. Para responder ao que dissestes, por mercê mostrai-me a vossa carta de crença.

Estas palavras do conde foram vibradas com um sorrir tão desusado que o trovador precisou de toda a energia de que naturalmente era dotado para disfarçar a impressão que na sua alma elas haviam produzido. Eram demasiado claras para não as entender. Teria sido atraiçoado por Abul-Hassan? Tremeu ao pensar em Dulce. Sem replicar tirou do peitilho do saio um pequeno pergaminho dobrado e apresentou-o ao conde, o qual o passou às mãos do reverendo Martim Eicha, que exercitava então o ofício de chanceler.

– Em termos, e sem dúvida – murmurou o digno cónego examinando a escritura. – Nada falta: sinais, notário e testemunhas.

– De quem são os sinais? – perguntou Fernando Peres, sem tirar os olhos do cavaleiro, cada vez mais perturbado.

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pág. 126 (Capítulo 13)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 126

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173