O Bobo - Cap. 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais Pág. 127 / 191

– De D. Afonso – respondeu Martim Eicha. – É o seu rodado e a cruz, tudo ao que parece feito por quem pintou a carta, que diz ser e me parece escrita da mão de Pedro o chanceler do infante...

– Infante?! – interrompeu em voz baixa o conde, batendo com força no punho da espada.

– Item – prosseguiu o cónego – de D. Paio, que louva e confirma...

– Do arcebispo de Braga? Vinga-se da prisão em que o teve a rainha. Como sempre, revoltoso e intrigante. Continuai.

– E de Fernão Cativo, alferes-mor de Portugal, diz a segunda regra dos que confirmam do lado direito.

– Mente! – retorquiu o conde em tom já mais alto e colérico. – O alferes-mor de Portugal está a meu lado, e não é um miserável traidor. Lede.

– E de Egas Moniz de Cresconhe, mordomo da cúria.

– Da cúria dos sandeus e vis! – atalhou o conde, cujo furor continuava a aumentar. – Velho infame, movedor principal da revolta!

– E de Gonçalo Mendes, rico-homem...

– Quê!? – bradou Fernando Peres, arrancando o pergaminho da mão de Martim Eicha e olhando espantado para aqueles caracteres, que a sua ignorância de nobre lhe não consentia entender. – Ele no campo de D. Afonso!? Ele também mandou escrever seu nome nesta carta de crença!? Não é preciso ler mais. Mensageiro, que vieste afrontar-me, sai já de Guimarães, porque te juro que não falarás à rainha: que não falarás aos traidores que talvez buscavas; porque traidores andam no meio de nós! Vai dizer aos vilões que te mandaram, e aos cavaleiros mais vilões do que eles, que eu, conde de Portugal e Coimbra, os desprezo; que se ousarem aproximar-se de Guimarães os mandarei desarmar pelos meus cavaleiros e arrancar-lhes os olhos pelos meus cavalariços e servos. Entendes? É isto o que lhes deves dizer, e dá graças a Deus de não começar por ti o castigo de desleais.





Os capítulos deste livro