Depois, encaminhando-se para uma porta exterior, chamou o seu pajem valido, que poucas vezes se afastava dele. Tructesindo apareceu.
– Dirige-te aos aposentos da rainha, meu gentil sobrinho – disse ele ao pajem, pondo-lhe a mão familiarmente sobre a cabeça. – Preciso de falar com Dulce, e importa que seja breve; mas é necessário que não o saiba D. Teresa.
Tructesindo pegou no braço do tio e, levando-o para uma janela, sem dizer palavra, apontou para o jardim pênsil que dali se descobria em grande parte. Dulce, assentada à sombra de um teixo, tinha na mão uma saudade, para a qual olhava sem pestanejar, absorvida em profunda meditação.
– Bulrão! – prosseguiu o conde rindo. – Dizes que é melhor aquele lugar? Não é assim? Para ti, gentil pajem, talvez! Não para mim, que já não trato de amores, como tu, que matas as lindas donzelas com mil trovas de queixumes. Mas repara que para ser cavaleiro importa mais o jogar pontas e tavolado e encavalgar um ginete que o aprender os cantares dos jograis e dos trovadores.
– Oh não, meu tio e senhor! – replicou o travesso rapaz. – Pelos ossos de S. Cucufate, que com tão finas artes o santo arcebispo Gelmires furtou de Braga para os levar a Compostela, vos juro que não pensava de amores. Mas como queríeis que eu pudesse falar a Dulce nos aposentos da rainha, sem que ela me enxergasse?... Àquela porta que vedes acolá – acrescentou maliciosamente – segue-se um corredor escuro, que vai da sala de armas ao jardim. Se eu soubesse quem possuía a chave iria por ali chamar Dulce.