Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais

Página 135

Dulce ergueu-se e ia partir; mas o conde a reteve e, fazendo-a de novo assentar, disse-lhe com brandura:

– Foges de mim, donzela? À fé que não to mereço eu. Vinha buscar- te para me queixar de me teres escondido um segredo, cuja revelação te houvera poupado amarguras e a mim um procedimento involuntariamente cruel. Quis ainda há pouco constranger- -te a dares a mão de esposa ao nobre Garcia Bermudes, porque ignorava que amavas um cavaleiro que foi meu inimigo, mas que já o não é. Cria que o teu refusar nascia de um capricho infantil; não de um amor ardente. Agora sei tudo. Egas Moniz, o nobre trovador que há três anos deixou a terra em que tu respiravas para ir colher louros santos junto ao sepulcro de Cristo, voltou a Portugal – e hoje entrou nestes paços como mensageiro do ilustre infante D. Afonso. Vinha trazer palavras de amor e de paz, e a paz e o amor renasceram entre a rainha e seu filho. Guerra, ódios, tudo acabou. Muitos me acusam de orgulhoso e inexorável; Egas, porém, não os creu. Declarou-me o seu amor, e D. Teresa por meus rogos lhe concede a sua Dulce e o solar dos Bravais. Disseste-me que não tinhas de mim préstamos: dou-te o que vale mais. Vamos, donzela, agora o rancor fora injusto. Deixa-me beijar-te a mão: é um roubo que faço ao nobre Egas, mas ele me perdoará. O cavaleiro neste momento está com a rainha, e eu vou conduzir-te aos seus braços.

De feito, o conde beijava afectuosamente a mão de Dulce. O seu gesto era tão sereno e alegre; as suas palavras pareciam vir tanto da alma; e falava com tanta certeza do amor de Egas, que a desgraçada caiu no laço infame que Fernando Peres armara. Sucessivamente ela empalidecera e corara, e as lágrimas que lhe rebentavam dos olhos misturavam-se com o sorrir dos lábios: o seu coração abria-se à felicidade depois de tanto padecer devorado em silêncio, como a flor açoutada por noite de ventania desabrocha ao asserenar da manhã com os primeiros raios do Sol.

<< Página Anterior

pág. 135 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 135

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173