O Bobo - Cap. 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais Pág. 136 / 191

– Oh! que essas palavras são suaves; são para mim o céu! – exclamou Dulce. – Sou eu que devo lançar-me a vossos pés, senhor conde, beijando a terra que pisais, e sois vós que deveis perdoar- -me, porque vos detestei e amaldiçoei quando queríeis unir-me a Garcia Bermudes, a esse nobre cavaleiro que eu amaria com todo o amor que ele merece se o meu coração fosse livre. Era fazer a minha ventura que vós pretendíeis, e eu insensata maldizia e odiava o meu anjo-da-guarda, o meu segundo pai! Punir-me-ei, fazendo a confissão que mais custa ao pudor: amo Egas; ele tinha de mim o juramento de antes morrer que traí-lo. Há um momento eu tremia, porque soubera parte do que me dizeis: soubera que ele estava em Guimarães como mensageiro do infante. Era uma angústia intolerável a minha: vós me arrancais de um abismo.

– Mas tu, minha Dulce – continuou o conde no mesmo tom –, não dizes tudo. Ontem à noite certo cavaleiro entrou disfarçado em Guimarães...

– Tendes razão, senhor conde – interrompeu a desgraçada. – Aqui neste horto ele veio jurar-me de novo o que me jurara três anos antes, que amava a sua Dulce com o mesmo amor ardente e ilimitado. Perdoar-me-á minha mãe adoptiva?...

– E porque não? – atalhou Fernando Peres. – Não sabe ela o que é o amor de uma donzela, louquinha? Aqueles que favoreceram a arriscada tentativa de Egas é que eu não sei se ela perdoará; porque foi falta de lealdade.





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