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Capítulo 14: XIV - Amor e vingança

Página 155

– Nem tu o podes, nem eu o quero – respondeu o cavaleiro. – Tens acaso força de quebrar estes ferros? Tenho eu que fazer da vida? O meu futuro acabou.

– Cavaleiro namorado, bem sei que tua dama é já de outrem! – insistiu o bobo. – Mas não achas uma ideia grande de que te alimentes ainda? Um destino a satisfazer? Um nobre feito a prosseguir? Também para mim, nesta vida risonha e folgada de bufão, houve uma hora de agonia e desesperação como a tua, e vivi! Vivi para vingar-me: para a vingança deves tu viver, se és um homem. Mal sabes que prazer é o responder com a injúria à injúria, com o martírio ao martírio! Olha: amanhã há um topar em cheio de escudos e lanças, há uma festa de sangue e matança, e o cavaleiro esforçado poderá pôr um joelho sobre os peitos do seu inimigo derrubado, e gritar-lhe aos ouvidos, apontando-lhe o punhal à garganta: «Sou eu que te mando aos infernos!» Oh, como será bom e consolador! Quisera ser forte e ser cavaleiro... Mas tu o és: tu, o abandonado, podes abrir a vala dos mortos entre o altar e o leito do noivado; converter em escárnio e mentira as bênçãos do sacerdote; ver a teus pés estorcendo-se moribundo o que assassinou a tua alma, e cuspir-lhe nas faces demudadas, e rir... desesperá-lo com o teu rir... É tudo isto o que há para ti na vida, se fugires. Se ficares, ao romper de alva subirás a uma das torres deste castelo para aí assistires mudo e quedo às façanhas do teu rival; mudo e quedo pendurado de uma corda do alto das ameias, como um judeu vil, como um feiticeiro maldito...

– Oh, não digas mais! – interrompeu o cavaleiro como embriagado e frenético pelo horror e pela vingança que respiravam as palavras, o gesto, o olhar de Dom Bibas. – Não digas mais! Tens razão, o vingar-se é o prazer supremo de um réprobo! Não aceitei dela a liberdade: aceitá-la-ei de ti... Depois... depois, Deus se compadeça de mim.

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pág. 155 (Capítulo 14)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 155

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173