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Capítulo 14: XIV - Amor e vingança

Página 154

Apenas este pôs os pés no pavimento do cárcere, fez sinal aos dois homens de armas que se retirassem, e dirigiu-se ao preso. Cruzando as mãos sobre o peito e curvando a cabeça, disse com uma voz grossa e contrafeita:

Dominus salvationem nostratibus et caetera.

– Quem sois vós? Que me quereis? – perguntou o preso, que se afastara sumindo-se na escuridão do cárcere, onde não batia a luz dos fachos.

– O nobre conde de Trava mandou chamar ao Mosteiro de S. Salvador um sacerdote que absolvesse um homem que devia morrer breve. Recebi eu a mensagem e vim exercitar essa obra de caridade. Creio que sois vós que figurareis no auto. Ouvirei vossa confissão quando vos aprouver, meu irmão!

Isto disse o monge com tom solene e em voz alta, de modo que fosse ouvido dos dois homens de armas que se iam retirando. Aproximou-se ao mesmo tempo do cavaleiro e segurando-lhe o braço o conduziu para ao pé de uma das troneiras, por onde entrava o clarão baço das almenaras. A luz dos fachos tinha desaparecido.

O frade recuou o capuz e, mudando repentinamente o metal de voz grossa em aflautada, prosseguiu:

– Não me conheces, Egas? Não te lembras de Dom Bibas, do jogral galiardo, com quem brincavas na tua infância? Ingrato, que te esqueceste de mim.

– Chocarreiro, para que vens aparecer-me neste transe tremendo? – interrompeu o trovador. – Porque vens misturar a risada do maninelo com os derradeiros arrancos do moribundo?

– Venho salvar-te, homem! – replicou o bobo. – Rir-me?! O rir já não é para mim!

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pág. 154 (Capítulo 14)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 154

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173