O Bobo - Cap. 16: Apêndice Pág. 176 / 191

Os cavaleiros das ascumas foram assentar-se num anfiteatro de paus grosseiramente acepilhados, que se alteava no topo do paralelogramo oposto ao do estrado da infanta. Na mais alta bancada do anfiteatro viam-se repotreados os magistrados municipais, e à sua direita os oficiais públicos da infanta que não exerciam cargos palatinos e que não pertenciam à classe dos ricos-homens e infanções. Eram estes o mordomo-maior do distrito, o juiz-do-livro e o alcaide- -menor de Guimarães. A autoridade dos dois primeiros estendia-se a toda a terra ou circunscrição administrativa em que o burgo vimaranense estava situado: a do mordomo-maior como agente principal do fisco; a do juiz-do-livro como magistrado judicial de todo aquele território, e cuja denominação provinha de julgar os casos ocorrentes pelo código visigótico, então vulgarmente conhecido pelo nome de Livro dos juízes. O alcaide-menor era o substituto ou vice- -gerente do alcaide-maior, delegado militar do poder supremo em cada concelho, personagem que, sendo por via de regra um infanção ou cavaleiro nobre de mesnada, se fazia representar por um cavaleiro vilão ou por um homem de rua, o qual usava do título de alcaide-menor ou simplesmente do de alcaide. Os magistrados municipais eram os dois juízes ou alcaides do burgo, entidades que cumulavam, como já advertimos, as funções dos juízes ordinários e dos vereadores de tempos mais modernos, mas que no exercício da judicatura tinham por assessores um certo número de burgueses mais notáveis, chamados homens-bons, que constituíam uma espécie de júri permanente. Como magistrados administrativos resolviam os negócios ordinários do burgo, recorrendo aliás aos comícios populares quando havia a deliberar sobre graves interesses do município. O almotacé, tradição do antigo edil romano e a quem incumbia a polícia material do burgo, e o andador ou porteiro, oficial menor dos alcaides, completavam o grupo da governança de Guimarães. Tanto estes como os ministros oficiais da comarca ou terra, cumpre confessá-lo aqui, da altura do seu olimpo improvisado davam todos os indícios de estarem profundamente possuídos do grave papel que representavam naquele esplêndido auto. Cônscios da própria dignidade, nenhum dos nobres cavaleiros dos briais e ascumas lhes mereceu sequer um olhar oblíquo. Também não parecia que eles fizessem grande caso disso, indo assentar-se de roldão na bancada imediata com grandes assobios e descompostas risadas, indiferentes à solene gravidade da magistratura real e municipal.





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