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Capítulo 8: VIII - Reconciliação

Página 69

– Não é isso só – interrompeu o cavaleiro –; é necessário que ainda hoje vás ao soveral que se estende junto ao vau do Avicela. Aí estará um escudeiro com o meu cavalo de batalha e as minhas armas: mostrando-lhe este anel, ele te entregará tudo. Conduze-me aqui o ginete e as armas ao cair do dia. Depois esperar-me-ás junto ao passadiço da torre para o jardim. O anel, esse, guardá-lo-ás para ti.

Abul-Hassan ia propor algumas dificuldades: as últimas palavras de Egas Moniz as haviam aplanado. O anel era assaz rico.

– Na confusão que hoje vai em palácio, ninguém reparará na minha falta. Assim poderei obedecer-vos.

– Ainda mais – prosseguiu o cavaleiro. – Quando atravessei a barbacã vi sinais de que as pontes levadiças se costumam erguer de noite. Preciso de saber até quando se poderá sair do burgo e por onde. Tu o indagarás com certeza. Se desempenhares bem tudo o que te ordeno, recolherás depois mais larga recompensa.

No rosto do mouro ria o contentamento.

– Meu irmão, o tornadiço ainda é um dos mestres dos trons e engenhos. Estão a seu cargo os que de novo se assentaram no cubelo do topo da couraça. Ele deve sabê-lo; e há-de por certo dizer-mo.

– Bem! – tornou Egas. – Agora vai executar o que te mandei, e entretanto eu ficarei aqui. Mas volta ao sol-posto; porque me será necessário a essas horas deixar a tua guarida.

Daí a pouco o mouro atravessava a barbacã por meio da comitiva de ricos-homens que começavam a entrar no burgo para assistirem à convocação solene da cúria.

Havia largos anos que Abul-Hassan estava incumbido do jardim pênsil. Naquele século os diferentes misteres, para os quais se requeria ou ciência ou indústria, eram quase exclusivamente exercitados por mouros e judeus. Na agricultura, porém, a raça árabe era a única entre a qual se encontravam homens profundamente versados em todos os ramos dela. Abul-Hassan, cativo em uma arrancada, obtivera pela sua ciência agronómica não só um tratamento menos duro do que era usual entre os cristãos para com os servos, mas até por fim a liberdade, e com a liberdade um cargo que se casava com a sua educação e hábitos – o de jardineiro do horto pênsil.

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 69

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173