Que rosto! Em linhas severos
Se lhe desenha o perfil;
E a cabeça, tão gentil,
Como se fora deveras
A rainha dessa gente,
Como a levanta insolente!
Vive Deus! que é ela... aquela,
A que eu vi na tal janela,
E que triste me sorria
Quando passando me via
Tão pasmado a olhar para ela.
A mesma melancolia
Nos olhos tristes - de luz
Oblíqua, viva mas fria;
A mesma alta inteligência
Que da face lhe transluz;
E a mesma altiva impaciência
Que de tudo, tudo cansa,
De tudo o que foi, que é,
E na ermo vida só vê
O raio da vaga esp'rança.
«Pois isto sim que é mulher»,
Disse eu - «e aqui há que ver.»
Já vinha a pálida aurora
Anunciando a manhã fria,
E eu falava e eu ouvia
O que até àquela hora
Nunca disse, nunca ouvi...
Toda a memória perdi
Das palavras preferidas.