There are more things in heaven and earth, Horatio
Than are dreamt of in your philosophy.
A ciência deste século é uma grandessíssima tola.
E como tal, presunçosa e cheia do orgulho dos néscios
Vamos à descrição da estalagem. Não pode ser clássica: assoviam-me todos esses rapazes de pêra, bigode e charuto, que fazem literatura cava e funda desde a porta do Marrare até ao café de Moscovo...
Mas aqui é que me aparece uma incoerência inexplicável. A sociedade é materialista; e a literatura, que é a expressão da sociedade, é toda excessivamente e absurdamente e despropositadamente espiritualista! Sancho rei de facto, Quixote rei de direito!
Pois é assim; e explica-se. — É a literatura que é uma hipócrita: tem religião nos versos, caridade nos romances, fé nos artigos de jornal — como os que dão esmolas para pôr no Diário, que amparam órfãs na Gazeta, e sustentam viúvas nos cartazes dos teatros.
E falam no Evangelho! Deve ser por escárnio. Se o lêem, hão-de ver lá que nem a esquerda deve saber o que faz a direita...
Vamos à descrição da estalagem; e acabemos com tanta digressão.
Não pode ser clássica, está visto, a tal descrição. — Seja romântica. — Também não pode ser. Porque não? É pôr-lhe lá um Chourineur a amolar um facão de palmo e meio para espatifar rês e homem, quanto encontrar — uma Fleur de Marie para dizer e fazer pieguices com uma roseirinha pequenina, bonitinha, que morreu, coitadinha! — e um príncipe alemão encoberto, forte no soco britânico, imenso em libras esterlinas, profundo em cegos e ladrões... e aí fica a Azambuja com uma estalagem que não tem que invejar à mais pintada e da moda neste século elegante, delicado, verdadeiro, natural!
É como eu devia fazer a descrição: bem o sei. Mas há um impedimento fatal, invencível — igual ao daquela famosa salva que se não deu... é que nada disso lá havia.