Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Capítulo 3

Página 14

E eu não quero caluniar a boa gente da Azambuja. Que me não leiam os tais, porque eu hei-de viver e morrer na fé de Boileau:

Rien n’est beau que le vrai.

Já se diz há muito ano que honra e proveito não cabem num saco; eu digo que beleza e mentira também lá não cabem: e é a mais portuguesa tradução que creio que se possa fazer daquele imortal e evangélico hemistíquio de Boileau. A maior parte das belezas da literatura actual fazem-me lembrar aquelas formosuras que tentavam os santos eremitas na Tebaida. O pobre de Santo Antão ou de S. Pacómio (Pacómio é melhor aqui) ficavam embasbacados ao princípio; mas dava-lhes o coração uma pancada, olhavam para os pés das tentadoras... — Cruzes, maldito! Os pés não podia ele encobrir. E ao primeiro abrenuntio do santo dissipava-se a beleza em muito fumo de enxofre, e ficava o Diabo negro, feio e cabrum como quem é, e sempre foi o pai da mentira.

Nada, nada, verdade e mais verdade. Na estalagem da Azambuja o que havia era uma pobre velha a quem eu chamei bruxa, porque, enfim, que havia eu de chamar à velha suja e maltrapida que estava à porta daquela asquerosa casa?

Havia lá esta velha, com a sua moça mais moça mas não menos nojenta de ver que ela, e um velho meio paralítico meio demente que ali estava para um canto com todo o jeito e traça de quem vem folgar agora na taberna porque já bebeu o que havia de beber nela.

Matava-nos a sede; mas a água ali é beber quartãs. O vinho era atroz. Limonada? Não há limões nem açúcar. — Mandou-se um próprio à tenda no fim da vila. Vieram três limões que me pareceram de uns que pendiam, quando eu vinha a férias, à porta do famoso botequim de Leiria.

O açúcar podia servir na última cena de M. de Pourceaugnac muito melhor que numa limonada. Mas misturou-se tudo com a água das sezões, bebemos, pusemo-nos em marcha, e até agora não nos fez mal, com o ser a mais abominável, antipática e suja beberagem que se pode imaginar.

Caminhámos da mesma ordem até chegar ao famoso pinhal da Azambuja.

<< Página Anterior

pág. 14 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro Viagens na minha terra
Páginas: 41
Página atual: 14

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 7
Capítulo 3 11
Capítulo 4 15
Capítulo 5 19
Capítulo 6 23
Capítulo 7 29
Capítulo 8 34
Capítulo 9 37