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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 31

Sentámo-nos, respirámos largo, e entrámos em conversa com o dono da casa, homem de trinta a quarenta anos, de fisionomia esperta e simpática, e sem nada do repugnante vilão ruim que é tão usual de encontrar por semelhantes lugares da nossa terra.

— «Então que novidades há por cá pelo Cartaxo, patrão?»

— «Novidades! Por aqui não temos senão o que vem de Lisboa.

— Aí está a «Revolução» de ontem...»

— «Jornais, meu caro amigo! Vimos fartos disso. Diga-nos alguma coisa da terra. Que faz por cá o...»

— «O mestre J. P., o «Alfageme»?»

— «Como assim o Alfageme?» — «Chamam-lhe o Alfageme ao mestre J. P.: pois então! Uns senhores de Lisboa que aí estiveram em casa do Sr. D. puseram-lhe esse nome, que a gente bem sabe o que é; e ficou-lhe, que agora já ninguém lhe chama senão o Alfageme. Mas quanto a mim, ou ele não é Alfageme, ou não o há-de ser muito. Não é aquele, não. Eu bem me entendo.» A conversação tornava-se interessante, especialmente para mim: quisemos profundar o caso.

— «Muito me conta, Sr. patrão! Com que isto de ser Alfageme, parece-lhe que é coisa de?...»

— «Parece-me o que é, o que há-de parecer a todo o mundo. E alguma coisa sabemos, cá no Cartaxo, do que vai por ele. O verdadeiro Alfageme diz que era um espadeiro ou armeiro, cutileiro ou coisa que o valha na Ribeira de Santarém; e que foi homem capaz, e que tinha pelo povo, e que não queria saber de partidos, e que dizia ele: — «Rei que nos enforque, e papa que nos excomungue, nunca há-de faltar. Assim, deixar os outros brigar, trabalhemos nós e ganhemos a nossa vida». Mas que estrangeiros que não queria, que esta terra que era nossa e com a nossa gente se devia de governar. E mais coisas assim: e que por fim o deram por traidor e lhe tiraram quanto tinha. — Mas que lhe valeu o Condestável e o não deixou arrasar, porque era homem de bem e fidalgo e fidalgo às direitas. Pois não é assim que foi?»

— «É, sim, meu amigo. Mas então daí?»

— «Então daí o que se tira é que quando havia fidalgos como o santo Condestável também havia Alfagemes como o de Santarém. E mais nada.»

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Capa do livro Viagens na minha terra
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 7
Capítulo 3 11
Capítulo 4 15
Capítulo 5 19
Capítulo 6 23
Capítulo 7 29
Capítulo 8 34
Capítulo 9 37