Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 16: Capítulo 16

Página 111

Simão, reconcentrando o indefinível sentimento que esta notícia lhe causara, disse com melancólica pausa:

– É pois certo que a minha má estrela arrasta a sua desgraçada filha a todos os meus abismos! Pobre anjo de caridade, que digna és tu do Céu!

– Que está o senhor aí a pregar? – interrompeu o ferrador. – Parece que ficou a modos de tristonho com a notícia!…

– Senhor João – tornou solenemente o preso – não deixe aqui a sua querida filha. Deixe-ma ver, traga-a consigo uma vez a esta casa; mas não a deixe cá, porque eu não posso tolher o destino de Mariana. Como há-de ela viver no Porto, sozinha, sem conhecer ninguém, bela como ela é, e perseguida como tem de ser?!…

– Perseguida! Tó carocha! Não que ela é mesmo de se lhe dar de que a persigam!… Que vão para lá, mas que deixem as ventas em casa. Meu amigo, as mulheres são como as peras verdes: um homem apalpa-as, e, se o dedo acha duro, deixa-as, e não as come. É como é. A rapariga sai à mãe. Minha mulher, que Deus haja, quando eu lhe andava rentando, dei-lhe um dia um beliscão numa perna. E vai ela põe-se direita comigo, e deu-me dois cascudos nas trombas, que ainda agora os sinto. A Mariana!… Aquilo é da pele de Satanás! Pergunte o senhor, se algum dia falar com aquele fidalguinho Mendes de Viseu, a troçada que ele levou com as rédeas da égua, só por lhe bulir na chinela quando ela estava em cima da burra!

Simão sorriu ao rasgado panegírico da bravura da moça, e orgulhou-se secretamente dos brandos afagos com que ela desvelara em oito meses de quase continuada convivência.

– E vossemecê há-de privar-se da companhia de sua filha? – insistiu o preso.

– Eu lá me arranjarei como puder. Tenho uma cunhada velha e levo-a para mim para me arranjar o caldo. E vossa senhoria pouco tempo aqui estará… O senhor corregedor lá anda a tratar de o pôr na rua, e que o senhor sai, cá para mim são favas contadas. E assim com'assim, vou dizer-lhe tudo duma feita: a rapariga, se eu a não deixasse vir para o Porto, dava um estoiro como uma castanha. Olhe que eu não sou tolo, fidalgo. Que ela tem paixão d'alma por vossa senhoria, isto é tão certo como eu ser João.

<< Página Anterior

pág. 111 (Capítulo 16)

Página Seguinte >>

Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 111

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139