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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 52

– Estou, minha senhora.

– Pois aquela grosseira vai-se embora, e deixa uma hóspede sozinha? Bem se vê que é filha de funileiro!… Pois tinha tempo de ter prática do mundo, que tem andado por lá que farte…

Eu havia de ir ao coro; mas não vou, para lhe fazer companhia, menina.

– Vá, vá, minha senhora, que eu fico bem sozinha – disse Teresa, com esperança de poder desafogar em lágrimas a sua aflição.

– Não vou, não!… A menina aqui estarrecia de medo; mas a prelada não tarda aí. Ela, se pode escapar-se do coro, não pára lá muito tempo. Ia apostar que ela lhe esteve a falar mal de mim?

– Não, minha senhora, pelo contrário…

– Ora diga a verdade, menina! Eu sei que esta cegonha não fala bem de ninguém. Para ela tudo são libertinas e bêbedas.

– Nada, não, minha senhora; nada me disse a respeito de alguma freira.

– E, se disse, deixá-la dizer. Ela o vinho não o bebe, suga-o; é uma esponja viva. Enquanto à libertinagem, tomara eu tantos mil cruzados como de amantes ela tem tido! Faz lá uma pequena ideia, menina!…

A escrivã bebeu um cálice de vinho da sua prelada e continuou:

– Faz lá uma pequena ideia! Ela é velhíssima como a sé. Quando eu professei já ela era velha como agora, com pouca diferença. Ora eu sou freira há vinte e seis anos; calcule a menina quantas arrobas de esturrinho ela tem atulhado naqueles narizes! Pois olhe, quer me creia, quer não, tenho-lhe conhecido mais de uma dúzia de chichisbéus, não falando do padre capelão, que esse ainda agora lhe fornece a garrafeira, à nossa custa, entende-se. É uma dissipadora dos rendimentos da casa. Eu, que sou escrivã, é que sei o que ela rouba. Eu tenho imensa pena de ver a menina hospedada em casa desta hipócrita. Não se deixe levar das imposturices dela, meu anjinho. Eu sei que seu pai lhe mandou falar, e a encarregou de a não deixar escrever, nem receber cartas; mas olhe, minha filha, se quiser escrever, eu dou-lhe tinteiro, papel, obreias e o meu quarto, se para lá quiser ir escrever. Se tem alguém que lhe escreva, diga-lhe que mande as cartas em meu nome; eu chamo-me Dionísia da Imaculada Conceição.

– Muito agradecida, minha senhora – disse Teresa, animada pelo oferecimento. – Quem me dera poder mandar um recado a uma pobre que mora no beco do…

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 52

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139