Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: Capítulo 14

Página 99

«Não me fujas ainda, Teresa. Já não vejo a forca, nem a morte. Meu pai protege-me, e a salvação é possível. Prende ao coração os últimos fios da tua vida. Prolonga a tua agonia, enquanto te eu disser que espero. Amanhã vou para as cadeias do Porto, e hei-de ali esperar a absolvição ou comutação da sentença. A vida é tudo. Posso amar-te no degredo. Em toda a parte há céu, e flores, e Deus. Se viveres, um dia serás livre; a pedra do sepulcro é que nunca se levanta. Vive, Teresa, vive! Há dias, lembrava-me que as tuas lágrimas lavariam da minha face as nódoas do sangue do enforcado. Esse pesadelo atroz passou. Agora neste inferno respira-se; o esparto do carrasco já me não aperta em sonhos a garganta. Já fito os olhos no céu, e reconheço a providência dos infelizes. Ontem, vi as nossas estrelas, aquelas dos nossos segredos nas noites da ausência. Volvi à vida, e tenho o coração cheio de esperanças. Não morras, filha da minha alma!»

Ia alta a noite, quando Teresa, sentada no seu leito, leu esta carta. Chamou a criada para ajudá-la a vestir. Mandou abrir a janela do seu quarto e encostou as faces às reixas de ferro. Esta janela olhava para o mar, e o mar era nessa noite uma imensa flama de prata; e a Lua esplendidíssima eclipsava o fulgor dumas estrelas, que Teresa procurava no céu.

– São aquelas! – exclamou ela.

– Aquelas quê, minha senhora? – disse Constança.

– As minhas estrelas!… pálidas como eu… A vida! ai! a vida! – exclamou ela, erguendo-se, e passando pela fronte as mãos cadavéricas – Quero viver! Deixai-me viver, ó Senhor!

– Há-de viver, menina! Há-de viver, que Deus é piedoso! – disse a criada. – Mas não tome o ar da noite. Este nevoeiro do rio faz-lhe grande mal.

– Deixa-me, deixa-me, que tudo isto é viver… Não vejo o céu há tanto tempo! Sinto-me ressuscitar aqui, Constança! Porque não tenho eu respirado todas as noites este ar? Eu poderei viver alguns anos? Poderei, minha Constança? Pede tu, pede muito à Virgem Santíssima! Vamos orar ambas!… Vamos, que o Simão não morre… O meu Simão vive e quer que eu viva. Está no Porto amanhã; e talvez já esteja…

– Quem, minha senhora?!

– Simão; o Simão vem para o Porto.

<< Página Anterior

pág. 99 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 99

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139