O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 257 / 478

O amanuense Pires, de sobrancelhas muito erguidas e muito sérias, embebia-se na ponta da pena de pato que aparava sobre a unha. O escrivão Domingos, esse sim, vibrava de atividade! O seu lápis rascunhava com furor; o processo estava-se decerto apressando; era tempo de trazer a sua ideia... E o Carlos então adiantando-se:

- Meus senhores! O senhor administrador?

Justamente, a voz de sua excelência chamou de dentro do seu gabinete:

- Ó Sr. Domingos?

O escrivão perfilou-se, puxando os óculos para a testa.

- Senhor administrador!

- O senhor tem fósforos?

O Domingos procurou ansiosamente pela algibeira, na gaveta, entre os papéis...

- Algum dos senhores tem fósforos?

Houve um rebuscar de mãos sobre a mesa... Não, não havia fósforos.

- Ó Sr. Carlos, o senhor tem fósforos?

- Não tenho, Sr. Domingos. Sinto.

O senhor administrador apareceu então, ajeitando as suas lunetas de tartaruga:

- Ninguém tem fósforos, hem? É extraordinário que não haja aqui nunca fósforos! Uma repartição destas sem um fósforo... Que fazem os senhores aos fósforos? Mande buscar por uma vez meia dúzia de caixas!

Os empregados olhavam-se consternados dessa falta flagrante no material do serviço administrativo. E o Carlos, apoderando-se logo da presença e da atenção de sua excelência:

- Senhor administrador, eu aqui venho... Aqui venho solicito e espontâneo, por assim dizer...

- Diga-me uma coisa, Sr. Carlos, interrompeu a autoridade. O pároco e o outro ainda estão lá na botica?

- O senhor pároco e o Sr. padre Silvério ficaram com minha esposa a repousar da comoção que...

- Tem a bondade de lhes dizer que são cá precisos...

- Eu estou à disposição da lei.

- Que venham quanto antes... São cinco horas e meia, queremo-nos ir embora!





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