O Crime do Padre Amaro - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 282 / 478

D. Josefa parecia-lhe que devia ser tinto, para se parecer mais com o sangue de Nosso Senhor.

- Emende a menina, mugiu o cônego de dedo em riste para Amélia.

Ela recusou-se, com um risinho. Como não era sacristão, não sabia...

- Emende o senhor pároco!

Amaro galhofou. Se era erro ser tinto, então devia ser branco...

- E por quê?

Amaro ouvira dizer que era o costume em Roma.

- E por quê? continuava o cônego, pedante e roncão. Não sabia.

- Porque Nosso Senhor Jesus Cristo, quando pela primeira vez consagrou, fê-lo com vinho branco. E a razão é muito simples: é porque na Judéia nesse tempo, como é notório, não se fabricava vinho tinto... Repita- me a senhora a aletria, faça favor.

Então, a propósito do vinho e da limpeza das galhetas, o padre Amaro queixou-se do Bento sacristão. Nessa manhã antes de se paramentar - justamente quando entrara o senhor cônego na sacristia - acabava de lhe dar uma desanda a respeito das alvas. Em primeiro lugar dava-as a lavar a uma Antônia que vivia amancebada com um carpinteiro, em grande escândalo, e que era indigna de tocar os paramentos santos. Esta era a primeira. Depois, a mulher trazia-as tão enxovalhadas que era um desacato usá-las no divino sacrifício...

- Ai, mande-mas a mim, senhor pároco, mande-mas a mim, acudiu D. Josefa. Dou-as à minha lavadeira, que é pessoa de muita virtude e traz a roupa escarolada. Ai, até era uma honra para mim! Eu mesmo as passava a ferro, e até se podia benzer o ferro...

Mas o cônego (que positivamente estava naquela noite duma loquacidade copiosa) interrompeu-a, e voltando-se para o padre Amaro, fixando-o profundamente:

- Ora a propósito de eu entrar na sacristia, sempre lhe quero dizer, amigo e colega, que cometeu hoje um erro de palmatória.





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