O Crime do Padre Amaro - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 328 / 478

O amigo Dias tinha algumas ideias de ir lá passar o Verão?

Não, não tinha. Mas como trouxera obras dentro e a fachada estava uma vergonha, mandara-lhe dar uma mão de ocre. Enfim, era necessário alguma aparência, sobretudo numa casa que estava à beira da estrada, onde passava todos os dias o morgadelho dos Poiais, um parlapatão que imaginava que só ele tinha um palacete decente em dez léguas à roda... Só para meter ferro, àquele ateu! Pois não lhe parecia, amigo Ferrão?

O abade estava justamente lamentando consigo aquele sentimento de vaidade num sacerdote; mas, por caridade cristã, para não contrariar o colega, apressou-se a dizer:

- Está claro, está claro. A limpeza é a alegria das coisas...

O cônego então, vendo passar no largo uma saia e um mantelete, foi à porta afirmar-se se era Amélia. Não era. E voltando, retomado agora da sua preocupação, vendo que o praticante fora dentro ao laboratório, disse ao ouvido do Ferrão:

- Uma embaixada da fortuna! Vou ver uma endemoniada!

- Ah, fez o abade, todo sério à ideia daquela responsabilidade.

- Quer você vir comigo, abade? É aqui perto...

O abade desculpou-se polidamente. Viera falar ao senhor vigário-geral, fora depois ao Silvério para lhe pedir aqueles dois volumes, vinha ali aviar uma receita para um velho da freguesia, e tinha de estar de volta aos Poiais ao toque das duas horas.

O cônego insistiu; era um instante, e o caso parecia curioso...

O abade então confessou ao caro colega que eram coisas que não gostava de examinar. Aproximava-se sempre delas com um espírito rebelde à crença, com desconfianças e suspeitas que lhe diminuíram a imparcialidade.

- Mas enfim há prodígios! disse o cônego. - Apesar das suas próprias dúvidas, não gostava daquela hesitação do abade, a propósito dum fenômeno sobrenatural, em que ele, cônego Dias, estava interessado. Repetiu com secura: - Tenho alguma experiência, e sei que há prodígios.





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