O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 100 / 414

Sebastião, há doença cá por casa do senhor engenheiro?

Sebastião todo surpreendido:

- Não. Por quê?

O Paula fez roncar a garganta, cuspilhou:

- É que tenho visto entrar para cá todos os dias um sujeito. Imaginei que fosse o médico.

E puxando o escarro:

- Desses novos da homeopatia!

Sebastião tinha corado.

- Nada - disse. - É o primo de D. Luísa.

- Ah! - fez o Paula. - Pois pensei... Queira desculpar, Sr. Sebastião.

E curvou-se respeitosamente.

- Já temos falatório! - foi pensando Sebastião.

E entrou em casa, descontente.

Morava ao fundo da rua, num prédio seu, de construção antiga, com quintal.

Sebastião era só. Tinha uma fortuna pequena em inscrições, terras de lavoura para o lado de Seixal, e a quinta em Almada - o Rozegal. As duas criadas eram muito antigas na casa. A Vicência, a cozinheira, era uma preta de São Tomé já do tempo da mamã. A tia Joana, a governanta, servia-o havia trinta e cinco anos; chamava ainda a Sebastião o "menino"; tinha já as tontices de uma criança, e recebia sempre os respeitos de uma avó. Era do Porto, do Poârto, como ela dizia, porque nunca perdera o seu acento minhoto. Os amigos de Sebastião chamavam-lhe uma velha de comédia. Era baixinha e gorda, com um sorriso muito bondoso; tinha os cabelos alvos como uma estriga, atados no alto num rolinho com um antigo pente de tartaruga; trazia sempre um vasto lenço branco muito asseado, traçado sobre o peito. E todo o dia passarinhava pela casa, com o seu passinho arrastado, fazendo tilintar os molhos de chaves, resmungando provérbios, tomando rapé de uma caixa redonda, em cuja tampa se lascava o desenho abonecado da ponte pênsil do Porto.

Em toda a casa havia um tom caturra e doce; na sala de visitas, quase sempre fechada, o vasto canapé, as poltronas tinham o ar empertigado do tempo do senhor D.





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