O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 99 / 414

Não havia nela certamente, nem escândalo excepcional, nem romance pungente. Basílio tinha sido apenas um pândego e, como tal, passara metodicamente por todos os episódios clássicos da estroinice lisboeta: - partidas de monte até de madrugada com ricaços do Alentejo; uma tipóia despedaçada num sábado de touros; ceias repetidas com alguma velha Lola e uma antiga salada de lagosta; algumas pegas aplaudidas em Salvaterra ou na Alhandra; noitadas de Colares nas tabernas fadistas; muita guitarra; socos bem jogados à face atônita de um polícia; e uma profusão de gemas de ovos nas glórias do Entrudo. As únicas mulheres mesmo que apareciam na sua história, além das Lolas e das Carmens usuais, eram a PisteIli, uma dançarina alemã cujas pernas tinham uma musculatura de atleta, e a Condessinha de Alvim, uma doida, grande cavaleira, que se separara de seu marido depois de o ter chicotado, e que se vestia de homem para bater ela mesma em trem de praça do Rossio ao Dafundo. Mas isto bastava para que Sebastião o achasse um debochado, um perdido; ouvira que ele tinha ido para o Brasil para fugir aos credores; que enriquecera por acaso, numa especulação, no Paraguai; que mesmo na Bahia, com a corda na garganta, nunca fora um trabalhador; e supunha que a posse da fortuna para ele, seria apenas um desenvolvimento dos vícios. E este homem agora vinha ver a Luisinha todos os

dias, estava horas e horas, seguia-a ao Passeio...

Para quê?... Era claro, para a desinquietar!

Ia justamente descendo a rua, dobrado sob a pesada desconsolação destas idéias quando uma voz encatarroada disse com respeito:

- Ó Sr. Sebastião!

Era o Paula dos móveis.

- Viva, Sr. João.

O Paula atirou para as pedras da rua um jato escuro de saliva, e com as mãos cruzadas debaixo das abas do comprido casaco de cotim, o tom grave:

- Ó Sr.





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