de jóias, o velho professor Aquiles Bentes, de óculos redondos e cara de coruja, excitado com a sua voz nasal:
- Minha rica senhora! O seu menino é um génio! É um génio! Há de ser um Rossini! É puxar por ele! É puxar por ele!
Mas era justamente o que ela não queria, era puxar por ele, coitadinho! Por isso não foi um Rossini. E todavia o velho Bentes continuava a dizer, por hábito:
- Há de ser um Rossini! Há de ser um Rossini!
Somente em lugar de o gritar, brandindo papéis de música, murmurava-o, os enormes de leão enfastiado.
Já então os dois rapazes vizinhos, Jorge e Sebastião, eram íntimos. Jorge mais inventivo, dominava-o. No quintal, a brincar, Sebastião era sempre nas imitações da diligência, o vencido nas guerras. Era Sebastião que carregava os pesos, que oferecia o dorso para Jorge trepar; nas merendas comia igual, deixava a Jorge toda a fruta. Cresceram. E aquela amizade sempre amuos, tornou-se na vida de ambos um interesse essencial e permanente.
Quando a mãe de Jorge morreu, pensaram mesmo em viver juntos; habitariam a casa de Sebastião, mais larga e que tinha quintal; Jorge queria comprar um cavalo, mas conheceu Luísa no Passeio, e daí a dois meses passava quase todo o seu dia na Rua da Madalena.
Todo aquele plano jovial da Sociedade Sebastião e Jorge - chamavam-lhe assim, rindo - desabou, como um castelo de cartas. Sebastião teve um grande pesar.
E era ele, depois, que fornecia os ramos de rosas que Jorge levava a Luísa, sem espinhos, com cuidados devotos, embrulhados num papel de seda. Era ele que tratava dos arranjos do "ninho", ia apressar os estofadores, discutir preços de roupas, vigiar o trabalho dos homens que pregavam os tapetes, conferenciar com a inculcadeira, cuidar dos papéis