As viagens, os mares atravessados tinham-no tornado mais trigueiro; a melancolia da separação dera-lhe cabelos brancos. Tinha sofrido por ela! - E no fim onde estava o mal? Ele jurara-lhe que aquele amor era casto, passando-se todo na alma. Tinha vindo de Paris, o pobre rapaz, assim lho jurara, a ver, uma semana, quinze dias. E havia de dizer-lhe: "Não voltes; vai-te"?
Quando a senhora quiser o chá... - disse da porta do quarto Juliana.
Luísa deu um suspiro alto como acordando. Não; que trouxesse a lamparina, mais tarde.
Eram dez horas. Juliana foi tomar o seu chá à cozinha. O lume ia-se apagando, o candeeiro de petróleo estendia nos cobres dos tachos reflexos avermelhados.
- Hoje houve coisa, Sra. Joana - disse Juliana sentando-se. - Está toda no ar! E é cada suspiro! Ali houve-a e grossa.
Joana, do outro lado, com os cotovelos na mesa e a face sobre os punhos, pestanejava de sono.
- A Sra. Juliana, também, deita tudo para o mal - disse.
- É que era necessário ser tola, Sra. Joana!
Calou-se, cheirou o açúcar; era um dos seus despeitos; gostava dele bem refinado - e aquele açúcar mascavado e grosso, que punha no chá um gosto de formigas, exasperava-a.
- Este é pior que o do mês passado! Para uma pobre de Cristo tudo é bom! - rosnou muito amargamente.
E depois de uma pausa repetiu:
- É que era necessário ser tola, Sra. Joana!
A cozinheira disse preguiçosamente:
- Cada um sabe de si...
- E Deus de todos - suspirou Juliana.
E ficaram caladas.
Luísa tocou a campainha embaixo.