O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 113 / 414

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Ela perguntou, um pouco descorada:

- Por quê?

Basílio disse, muito indiferente:

- Que diabo faço eu aqui?... Esteve um momento a fitar o tapete, deu um suspiro, e como dominando-se:

- Adeus, meu amor...

E saiu.

Quando nessa tarde Luísa entrou na sala de jantar, levava os olhos vermelhos.

Foi ela no dia seguinte que falou do campo. Queixou-se do continuo calor, da seca de Lisboa. Como devia estar lindo em Sintra!

- És tu que não queres - acudiu ele. - Podíamos fazer um passeio adorável.

Mas tinha medo, podiam ver...

- O quê! Num cupê fechado? Com os estores descidos?

Mas então era pior que estar numa sala; era abafar numa boceta! Mas não! Iam a uma quinta. Podiam ir às Alegrias, à quinta de um amigo que estava em Londres. Só viviam lá os caseiros; era ao pé dos Olivais; era lindo! Belas ruas de loureiros, sombras adoráveis. Podiam levar gelo, champanhe...

- Vem! - disse bruscamente, tomando-lhe as mãos.

Ela corou. - Talvez. No domingo veria.

Basílio conservava-lhe as mãos presas. Os seus olhos encontraram-se, umedeceram-se. Ela sentiu-se muito perturbada: desprendeu as mãos; foi abrir as vidraças ambas, dar à sala uma claridade larga como uma publicidade; sentou-se numa cadeira ao pé do piano, receando a penumbra, o sofá, todas as cumplicidades; e pediu-lhe que cantasse alguma coisa, porque já temia as palavras, tanto como os silêncios! Basílio cantou a Medjé, a melodia de Gounod, tão sensual e perturbadora. Aquelas notas quentes passavam-lhe na alma como bafos de uma noite elétrica. E quando Basílio saiu, ficou sentada, quebrada, como depois de um excesso.

Sebastião tinha estado nos últimos três dias em Almada, na Quinta do onde trazia obras.

Voltara na segunda-feira





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