O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 117 / 414

Julião sorriu, e encostando a cabeça à parede:

- Mas isso é o enredo da Eugênia Grandet, Sebastião! Estás-me a contar o romance de Balzac! Isso é a Eugênia Grandet!

Sebastião fitou-o espantado.

- Ora! Não se pode falar sério contigo. Dou-te a minha palavra de honra! - acrescentou vivamente.

- Vá, Sebastião, vá, dize.

Houve um silêncio. O sujeito calvo, agora, contemplava o estuque do teto sujo de fumo dos cigarros e do pousar das moscas; e, com a mão sapuda, de tom pegajoso, cofiava amorosamente as repas. No bilhar vozes altercavam.

Sebastião então, como tomado de uma resolução, disse bruscamente:

- E agora vai lá todos os dias, não sai de lá!

Julião afastou-se na banqueta e encarou-o:

- Tu queres-me dar a entender alguma coisa, Sebastião?

E com uma vivacidade quase jovial:

- O primo atira-se?

Aquela palavra escandalizou Sebastião.

- Ó Julião! - E severamente: - Com essas coisas não se brinca!

Julião encolheu os ombros.

- Mas está claro que se atira! - exclamou. - És de bom tempo ainda! Está claro que sim! Namorou-a solteira, agora quere-a casada!

- Fala baixo - acudiu Sebastião.

Mas o criado dormitava, e o sujeito calvo tinha recaído na sua leitura fúnebre.

Julião baixou a voz:

- Mas é sempre assim, Sebastião. O primo Basílio tem razão; quer o prazer sem a responsabilidade!

E quase ao ouvido dele:

- É de graça, amigo Sebastião! É de graça! Tu não imaginas que influência isto tem no sentimento!

Riu-se. Estava radioso; as palavras, as pilhérias vinham-lhe com abundância:

- Há um marido que a veste, que a calça, que a alimenta, que a engoma, que a vela se está doente; que a atura se ela está nervosa; que tem todos os encargos, todos os tédios, todos os filhos, todos, todos os que vierem, sabes a lei.





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