Defronte deles um sujeito de ar debochado lia um jornal; as suas melenas grisalhas colavam-se a um crânio amarelado; o bigode tinha tons queimados do cigarro; e das noitadas ficara-lhe uma vermelhidão inflamada nas pálpebras. De vez em quando erguia preguiçosamente a cabeça, atirava para o chão areado um jato escuro de saliva, dava uma sacudidela triste ao jornal e tornava a fitá-lo com ar infeliz. Quando os dois entraram e pediram carapinhadas, abaixou-lhes gravemente a cabeça.
Mas o que é então? - perguntou logo Julião. Sebastião chegou-se mais para ele:
- É por causa lá da nossa gente. Por causa do primo - disse baixo.
E acrescentou:
- Tu viste-lo, hem?
A lembrança repentina da sua humilhação na sala de Luísa trouxe um rubor de Juílão. Mas muito orgulhoso, disse secamente:
- Vi
- E então?
- Pareceu-me um asno! - exclamou, não se contendo.
- É um extravagante - disse com terror Sebastião. - Não te pareceu, hem?
- Pareceu-me um asno - repetiu. - Umas maneiras, uma afetação, um alambicado, a olhar muito para as meias, umas meias ridículas de mulher...
E com um certo sorriso azedado:
- Eu mostrei-lhe francamente as minhas botas. Estas - disse, apontando para os botins mal - engraxados -, tenho muita honra nelas; são de quem trabalha...
Porque publicamente costumava gloriar-se de uma pobreza, que intimamente não o cessava de o humilhar.
E remexendo devagar a sua carapinhada:
- Uma besta! - resumiu.
- Ti sabes que ele foi namoro da Luísa? - disse Sebastião, baixo, como assustado da gravidade da confidência.
E respondendo logo ao olhar surpreendido de Julião:
- Sim. Ninguém o sabe. Nem Jorge. Eu soube-o há pouco, há meses. Foi. Estiveram a casar. Depois o pai faliu, ele foi para o Brasil, e de lá escreveu a romper o casamento.