- Que calor, Basílio!
Quis descer um dos vidros do cupê.
- Não, isso não! Podiam vê-los! Quando passassem as portas...
- Para onde vamos nós?
E espreitava, levantando o estore.
- Vamos para o lado do Lumiar, é o melhor sitio. Não queres?
Encolheu os ombros. Que lhe importava? Ia sossegando; tinha tirado o véu ~ luvas; sorria, abanando-se com o lenço, de onde saia um aroma fresco.
Basílio prendeu-lhe o pulso, pôs-lhe muitos beijos longos, delicados, na pele fina, azulada de veiazinhas.
- Tu prometeste ter juízo! - fez ela com um sorriso cálido olhando-o de lado.
Ora! Mas um beijo, no braço! Que mal havia? Também era necessário não ser beata!
E olhava-a avidamente.
Os velhos estores do cupê corridos eram de seda vermelha, e a luz que os atravessava envolvi-a num tom igual, cor-de-rosa e quente. Os seus beiços tinham um escarlate molhado, a lisura sã de uma pétala de rosa; e ao canto do olho um ponto de luz movia-se num fluido doce.
Não se conteve, passou-lhe os dedos um pouco trémulos nas fontes, nos cabelos, com uma carícia fugitiva e assustada, e com a voz humilde:
- Nem um beijo na face, um só?
- Um só? - fez ela.
Pousou-lho delicadamente ao pé da orelha. Mas aquele contato exasperou-lhe o desejo brutalmente; teve um som de voz soluçado; agarrou-a com sofreguidão, e atirava-lhe beijos tontos pelo pescoço, pela face, pelo chapéu...
- Não! Não! - balbuciava ela, resistindo. - Quero descer! Dize que pare! Batia nos vidros; esforçava-se por correr um, desesperada, magoando os dedos na dura correia suja.
Basílio pôs-se a suplicar; que lhe perdoasse! Que doidice, zangar-se por um beijo! Se ela estava tão linda!... Fazia-o doido. Mas jurava ir quieto, muito quieto...
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