carruagem, ao pé das portas, rolava sacudida na calçada miúda; nas terras, aos lados, as oliveiras de um verde empoeirado estavam imóveis na luz branca e sobre a erva crestada o sol batia duramente numa fulguração continua.
Basílio tinha descido um dos vidros; o estore corrido palpitava brandamente, pôs-se então a falar-lhe ternamente de si, do seu amor, dos seus planos. Estava resolvido a vir estabelecer-se em Lisboa - dizia. - Não tencionava casar-se; "não compreendia nada melhor do que viver ao pé dela, sempre. Dizia-se desiludido, enfastiado. Que mais lhe podia oferecer a vida? Tinha tido as sensações dos amores efêmeros, as aventuras das longas viagens. Ajuntara alguma de seu - e sentia-se velho.
Repetia, fitando-a, tomando-lhe as mãos:
- Não é verdade que estou velho?
- Não muito - e os seus olhos umedeciam-se.
Ah! Estava! Estava! O que lhe apetecia agora era viver para ela, vir descansar nas da sua intimidade. Ela era a sua única família. - Fazia-se muito parente. - A família no fim de tudo é o que há de melhor ainda. Não te incomoda que eu fume?
E acrescentou, raspando o fósforo:
- O que há de bom na vida é uma afeição profunda como a nossa. Não é verdade? Contento-me com pouco, de resto. Ver-te todos os dias, conversar muito, saber que me estimas... - Por dentro do campo, ó Pintéus! - gritou com força pela portinhola.
O cupê entrou a passo no Campo Grande. Basílio ergueu os estores; um ar mais vivo penetrou. O sol caía sobre o arvoredo, transpassando-o de uma luz faiscante, formando no chão poeirento e branco sombras quentes de ramagens. Tudo tinha em redor um aspecto ressequido e exausto. Na terra gretada, a erva curta, crestada, fazia tons cinzentos. Na estrada, ao lado, arrastava-se uma poeira amarelada.