O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 131 / 414

.. Era o diabo, dizer-lho!... Mas era um dever! Por ela, pelo marido, pelo respeito da casa! Era forçoso acautelá-la... E não se sentia acanhado. Perante as reclamações do dever, vinham-lhe as energias da decisão. O coração batia-lhe um pouco, sim, e estava pálido... Mas, que diabo havia de lho dizer!...

E passeando pela sala com as mãos nos bolsos, ia arranjando as suas frases, procurando-as muito delicadas, bem amigas...

Mas a campainha retiniu, um frufru de vestido roçou o corredor - e a sua coragem engelhou-se como um balão furado. Foi-se logo sentar ao piano, pôs-se a bater vivamente no teclado. Quando Luísa entrou, sem chapéu, descalçando as luvas, ergueu-se, disse embaraçado:

- Tenho estado aqui a trautear um bocado... Estava à espera... Então de onde vem?

Ela sentou-se, cansada. Vinha da modista - disse. Fazia um calor! Por que não tinha entrado as outras vezes? Não estava com visitas de cerimônia! Era família, era seu primo que viera de fora.

- Está bom, seu primo?

- Bom. Tem estado aqui, bastante. Aborrece-se muito em Lisboa, coitado! Ora, quem vive lá fora!

Sebastião repetiu, esfregando devagar os joelhos:

Está claro, quem vive lá fora!

- E Jorge, tem-lhe escrito? - perguntou Luísa.

- Recebi carta ontem.

Também ela. Falaram de Jorge, dos tédios da jornada, do que contava do fantástico parente de Sebastião, da demora provável...

- Faz-nos uma falta, aquele maroto! - disse Sebastião.

Luísa tossiu. Estava um pouco pálida, agora. Passava às vezes a mão pela testa, cerrando os olhos.

Sebastião, de repente, teve uma decisão:

- Pois eu vinha, minha rica amiga... - começou.

Mas viu-a ao canto do sofá com a cabeça baixa, a mão sobre os olhos.

- Que tem? Está incomodada?

- É a enxaqueca que me veio de repente.





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