O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 130 / 414

Basílio então desceu os vidros, e respirou com satisfação. Acendeu outro charuto, estendeu as pernas, gritou:

- Ao Grêmio, ó Pintéus!

Na sala de leitura, o seu amigo o Viscondo Reinaldo, que havia anos vivia em Londres, e muito em Paris também, lia o Times languidamente, enterrado numa poltrona. Tinham vindo ambos de Paris, com a promessa de voltarem juntos por Madri. Mas o calor desolava Reinaldo; achava a temperatura de Lisboa reles; trazia lunetas defumadas; e andava saturado de perfumes, por causa "do cheiro ignóbil de Portugal". Apenas viu Basílio deixou escorregar o Times nu tapete, e com os braços moles, a voz desfalecida:

- E então essa questão da prima, vai ou não vai? Isto está horrível, menino! Eu morro! Preciso o Norte! Preciso a Escócia! Vamos embora! Acaba com essa prima. Viola-a. Se ela te resiste, mata-a!

Basílio, que se estendera numa poltrona, disse, estirando muito os braços:

- Oh! Está caidinha!

- Pois avia-te, menino, avia-te!

Apanhou moribundamente o Times, bocejou, pediu soda - soda inglesa!

Não havia, veio dizer o criado. Reinaldo fitou Basílio com espanto, com terror, e murmurou soturnamente:

- Que abjeção de país!

Quando Luísa entrou, Juliana, ainda vestida, disse-lhe logo à porta:

- O Sr. Sebastião está na sala. Tem estado um ror de tempo à espera... Já cá estava quando eu cheguei.

Tinha vindo com efeito havia meia hora. Quando a Joana lhe veio abrir, muito encarnada, com ar estremunhado, e resmungou que a senhora estava para fora, Sebastião ia logo descer, com o alívio delicioso de uma dificuldade adiada. Mas reagiu, retesou a vontade, entrou, pôs-se a esperar... Na véspera tinha decidido falar-lhe, avisá-la que aquelas visitas do primo, tão repetidas, com espalhafato, numa rua maligna, podiam comprometê-la.





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