O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 138 / 414

Disse:

- Está claro que deve ver seu primo; recebê-lo... Mas enfim, sempre é bom uma certa reserva, com esta vizinhança! Eu se fosse a si contava-lhe... explicava-lhe...

- Mas, por fim, que diz essa gente, Sebastião?

- Repararam. Quem seria? Quem não seria? Que vinha; que estava; o diabo!

Luísa ergueu-se impetuosamente:

- Eu bem tenho dito a Jorge! Tantas vezes lho tenho dito! Isto é uma rua impossível! Não se mexe um dedo que não espreitem, que não cochichem!

- Não têm que fazer...

Houve um silêncio. Luísa passeava pela sala, com a cabeça baixa, a testa franzida; e parando, olhando quase ansiosamente para Sebastião:

- O Jorge se soubesse é que tinha um desgosto! Santo Deus!

- Escusa de saber! - exclamou logo Sebastião. - Isto fica entre nós!

- Para o não afligir, não é verdade? - acudiu ela

- Está claro! Isto fica entre nós.

E Sebastião estendendo-lhe a mão, quase humildemente.

- Então não está zangada comigo, hem?

- Eu, Sebastião! Que tolice!

- Bem, bem. Acredite! - e espalmou a mão sobre o peito - eu entendi que era o meu dever. Porque enfim, a minha rica amiga não sabia nada...

- Estava bem longe!...

- Decerto. Bem, adeus. Não a quero maçar mais. - E com uma voz profunda, comovida: - Cá estou às ordens, hem!

- Adeus, Sebastião... Mas que gente! Por ver entrar o pobre rapaz três ou quatro vezes!...

- Uma canalha, uma canalha! - disse Sebastião, arregalando os olhos.

E saiu.

Apenas ele fechou a porta:

- Que desaforo! - exclamou Luísa. - Isto só a mim!

Porque a intervenção de Sebastião, no fundo, irritava-a mais que os mexericos da vizinhança! A sua vida, as suas visitas, o interior da sua casa era discutido, resolvido por Sebastião, por Julião, por tutti quanti! Aos vinte e cinco anos tinha mentores! Não estava má! E por quê, Santo Deus? Porque seu primo, o seu único parente vinha vê-la!.





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