declarou que vinha a cair de fome! E a sala de jantar com as vidraças abertas, as verduras dos terrenos vagos defronte, um azul de horizonte onde se algodoavam nuvenzinhas muito brancas - alegrou-a; a sala de jantar dela tirava-lhe até o apetite; era uma tristeza; deitava para o saguão!
Pôs-se a depenicar bagos de uvas, a trincar bocadinhos de conserva - e reparando no retrato do pai de Jorge, desdobrando o guardanapo:
- Havia de ser divertido teu sogro! Tem cara de pândego!
- E há que tempos que não jantavam juntas! Desde quando?
- Desde o meu primeiro ano de casada - lembrou Luísa.
Leopoldina fez-se um pouco vermelha. Viam-se muito nesse tempo; Jorge ir às lojas ambas, aos confeiteiros, à Graça... A lembrança daquela camaradagem levou-a às recordações mais distantes do colégio. Tinha visto, havia dias, a Rita Pessoa, com o sobrinho. - Lembraste dele?
- O Espinafre?
- "Espinafre" ou não era no colégio o homem, o ideal, o herói; todas lhe escreviam bilhetes, desenhavam-lhe corações de onde saia uma fogueira; metiam-lhe no boné muito sebento ramos de flores de papel... E quando a Micaela foi apanhada, no cacifo dos baús, a devorá-lo de beijos!...
Luísa disse:
- Que horror!
- Não que a Micaela era doida!
Coitada! Tinha casado com um alferes, um homem que a espancava. Estava cheia de filhos...
- Isto é um vale de lágrimas! - resumiu Leopoldina, recostando-se.
Estava loquaz. Servia-se muito, com gula; depois picava um bocadinho na ponta do garfo, provava, deixava, punha-se a comer côdeas de pão que barrava de manteiga. E deleitava-se nas recordações do colégio! Que bom tempo!
- Lembraste quando estivemos de mal?
Luísa não se lembrava...
- Por tu teres dado um beijo na Teresa, que era o meu sentimento - disse Leopoldina.