Estava sentada, vestida ricamente de preto, direita no seu corpete espartilhado e seco: uma das mãos, de um lívido morto, pousava nos joelhos sobrecarregada de anéis; a outra perdia-se entre as rendas muito trabalhadas de um mantelete de cetim; e aquela figura longa, macilenta, com grandes olhos carregados de negro, destacava sobre uma cortina escarlate, corrida em pregas copiosamente quebradas, deixando ver para além céus azulados e redondezas de arvoredos.
- E teu marido? - perguntou Luísa, vindo sentar-se muito junto de Leopoldina.
- Como sempre. Pouco divertido - respondeu, rindo. E, com um ar sério, a testa um pouco franzida: - Sabes que acabei com o Mendonça?
Luísa fez-se ligeiramente vermelha.
- Sim?
Leopoldina deu logo detalhes.
Era muito indiscreta, falava muito de si, das suas sensações, da sua alcova, das suas contas. Nunca tivera segredos para Luísa; e na sua necessidade de fazer confidências, de gozar a admiração dela, descrevia-lhe os seus amantes, as opiniões deles, as maneiras de amar, os tiques, a roupa, com grandes exagerações! Aquilo era sempre muito picante, cochichado ao canto de um sofá, entre risinhos; Luísa costumava escutar, toda interessada, as maçãs do rosto um pouco envergonhadas, pasmada, saboreando, com um arzinho beato. Achava tão curioso!
- Desta vez é que bem posso dizer que me enganei, minha rica filha! - exclamou Leopoldina erguendo os olhos desoladamente.
Luísa riu.
- Tu enganas-te quase sempre!
Era verdade! Era infeliz!
- Que queres tu? De cada vez imagino que é uma paixão, e de cada vez me sai uma maçada!
E picando o tapete com a ponta da sombrinha:
- Mas se um dia acerto!
- Vê se acertas - disse Luísa. - Já é tempo!
Às vezes na sua consciência achava Leopoldina "indecente"; mas tinha um fraco por ela: sempre admirara muito a beleza do seu corpo, que quase lhe inspirava uma atração física.