.. E com uma voz um pouco desvairada:
- Já é tão tarde! - disse.
- Tens razão.
Foi buscar o chapéu em bicos de pés, veio beijá-la muito, saiu.
Luísa sentiu-o acender um fósforo, fechar devagarinho a cancela.
Estava só; pôs-se a olhar em roda, como idiota. O silêncio da sala parecia-lhe enorme. As velas tinham uma chama avermelhada. Piscava os olhos, tinha a boca seca. Uma das almofadas do divã estava caída, apanhou-a.
E com um ar sonâmbulo entrou no quarto. Juliana veio trazer o rol. E já vinha com a lamparina, estava a arranjá-la...
Tinha tirado a cuia; subiu à cozinha quase a correr. A Joana, que estivera dormitando, espreguiçava-se com bocejos enormes.
Juliana pôs-se a arranjar a torcida da lamparina; os dedos tremiam-lhe; tinha no olhar um brilho agudo; e depois de tossir, devagarinho, com um sorriso para Joana:
- E então a que horas veio o primo da senhora?
- Veio logo que vossemecê saiu, estavam a dar as nove.
- Ah!
Desceu com a lamparina; e sentindo Luísa na alcova despir-se:
- A senhora não quer chá? - perguntou, com muito interesse.
- Não.
Foi à sala, fechou o piano. Havia um forte cheiro de charuto. Pôs-se a olhar em redor, devagar, andando com um passo sutil... De repente agachou-se, ansiosamente: ao pé do divã uma coisa reluzia. Era uma travessa de Luísa, de tartaruga, com o aro dourado. Tornou a entrar no quarto em pontas de pés, pousou-a no toucador, entre os rolos de cabelo.
- Quem anda aí? - perguntou da alcova a voz sonolenta de Luísa.
- Sou eu, minha senhora, sou eu; estive a fechar a sala. Muito boas noites, minha senhora!
Àquela hora Basílio entrava no Grêmio. Procurou pelas salas. Estavam desertas. Dois sujeitos, com os rostos entre os punhos, curvados