O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 167 / 414

.. E toda no ar, procurava pelo as chavinhas do toucador.

Onde tinha deixado as chaves? Na sala de jantar, talvez! Ia ver! Saiu correndo, tontinha, cantarolando:

- Amici, ta notte e bella...

La ra la la...

Quase topou com Juliana, que varria o corredor.

- Não deixe de engomar a saia bordada para amanhã, Juliana!

- Sim, minha senhora. Está em goma!

E seguindo-a com um olhar feroz:

- Canta, piorrinha; canta, cabrazinha; canta, bebedazinha!...

E ela mesma, tomada subitamente de um júbilo agudo, atirou vassouradas rápidas, soltando na sua voz rachada:

- Além de amanhã termina a campanha,

P-o-o-or aqui se diz...

Se tal for verdade, se não for patranha...

E com um espremido enfático:

- Se-e-rei bem feliz!

Ao outro dia, pelas duas horas da tarde, Sebastião e Julião passeavam em São Pedro de Alcântara.

Sebastião estivera contando a sua cena com Luísa, e como desde então a sua estima por ela crescera. Ao principio escabreara-se, sim...

- Mas teve razão! Assim de surpresa, ouvir uma daquelas! E eu levei a coisa mal, fui muito à bruta...

Depois, coitadinha, concordara logo, mostra-se muito desgostosa, toda zelosa do seu pudor, pedira-lhe conselhos... Até tinha as lágrimas nos olhos.

- Eu disse-lhe logo que o melhor era falar ao primo, dizer o que se passava... Que te parece?

- Sim - disse vagamente Julião.

Tinha-o escutado distraído, chupando a ponta do cigarro. O seu rosto térreo cavava-se, com uma cor mais biliosa.

- Então achas que fiz bem, hem?

E depois de uma pausa:

- Que ela é uma senhora de bem às direitas! As direitas, Julião!

Continuaram calados. O dia estava encoberto e abafado, com um ar de trovoada; grossas nuvens pesadas e pardas iam-se acumulando, enegrecendo para o lado da Graça por trás das colinas; um vento rasteiro passava por vezes, pondo um arrepio nas folhas das árvores.





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