O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 168 / 414

- De maneira que agora estou descansado - resumiu Sebastião. - Não te parece?

Julião encolheu os ombros com um sorriso triste:

- Quem me dera os teus cuidados, homem! - disse.

E falou então com amargura nas suas preocupações. - Havia uma semana que se abrira concurso para uma cadeira de substituto na Escola, e preparava-se para ele. Era a sua tábua de salvação, dizia; se apanhasse a cadeira, ganhava logo nome, a clientela podia vir, e a fortuna... E, que diabo, sempre era estar de dentro!... Mas a certeza da sua superioridade não o tranquilizava - porque enfim em Portugal, não é verdade? Nestas questões a ciência, o estudo, o talento são uma história; o principal são os padrinhos! Ele não os tinha - e o seu concorrente, um sensaborão, era sobrinho de um diretor-geral, tinha parentes na Câmara; era um colosso! Por isso ele trabalhava a valer, mas parecia-lhe indispensável meter também as suas cunhas! Mas quem?

- Tu não conheces ninguém, Sebastião?...

Sebastião lembrava-se de um primo seu, deputado pelo Alentejo, um gordo da maioria, um pouco fanhoso. Se Julião queria, falava-lhe... Mas sempre ouvira dizer que a Escola não era gente de empenhos e de intriga... De resto tinham o Conselheiro Acácio...

- Uma besta! - fez Julião. - Um parlapatão. Quem faz lá caso daquilo? O teu pnmo, hem! O teu primo parece-me bom! E necessário alguém que fale, trabalhe... - Porque acreditava muito nas influências dos empenhos, no domínio dos "personagens", nas docilidades da fortuna quando dirigida pelas habilidades da intriga. E com um orgulho raiado de ameaça: - Que eu hei de lhes mostrar o que é saber as coisas, Sebastião!

Ia explicar-lhe o assunto da tese, mas Sebastião interrompeu-o:

- Ela aí vem.

- Quem?

- A Luísa.





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