O Primo Basílio - Cap. 1: CAPÍTULO I Pág. 17 / 414

Entre as bambinelas, em mesas redondas de pé de galo, plantas espessas, begônias, macomas, dobravam decorativamente a sua folhagem rica e forte, em vasos de barro vermelho vidrado.

Aqueles arranjos confortáveis lembraram decerto a Leopoldina felicidades tranquilas. Pôs-se a dizer devagar, olhando em roda:

- E tu, sempre muito apaixonada por teu marido, hem? Fazes bem, filha, tu é que fazes bem!

Foi defronte do toucador aplicar pó-de-arroz no pescoço, nas faces:

- Tu é que fazes bem! - repetia. - Mas vá lá uma mulher prender-se a um homem como o meu!

Sentou-se na causeuse com um ar muito abandonado; vieram as queixas habituais sobre seu marido: era tão grosseiro! Era tão egoísta!

- Acreditarás que há tempos para cá, se não estou em casa ás quatro horas, não espera, põe-se à mesa, janta, deixa-me os restos! E depois desleixado, enxovalhado, sempre a cuspir nas esteiras... O quarto dele - nós temos dois quartos, como tu sabes - é um chiqueiro!

Luísa disse com severidade:

- Que horror! A culpa também é tua.

- Minha! - e endireitou-se, luziam-lhe os olhos, mais largos, mais negros.

- Não me faltava mais nada senão ocupar-me do quarto do homem!

Ah! Era muito desgraçada, era a mulher mais desgraçada que havia no mundo!

- Nem ciúmes tem, o bruto!

Mas Juliana entrou, tossiu, e arranjando ainda o colar e o broche:

- A senhora sempre quer que engome os coletes todos?

- Todos, já lhe disse. Hão de ficar à noite na mala antes de se ir deitar.

- Que mala? Quem parte? - perguntou Leopoldina.

- O Jorge. Vai às minas, ao Alentejo.

- Então estás só, posso vir ver-te! Ainda bem!

E sentou-se logo ao pé dela, com um olhar que se fizera doce.

- É que tenho tanto que contar! Se tu soubesses, filha!

- O quê? Outra paixão? - fez Luísa rindo.





Os capítulos deste livro