O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 177 / 414

Luísa não lhe pronunciou sequer o nome. E Sebastião, vendo naquela reserva uma diminuição de confiança ou um resto persistente de despeito, disse que tinha de ir à Associação Geral da Agricultura; e saiu muito desconsolado.

Cada dia que se seguiu trouxe-lhe a sua inquietação diferente. As vezes era a tia Joana que lhe dizia à tarde: A Luisinha lá saiu hoje outra vez! Por este calor, até pode apanhar alguma! Credo!" Outras, era o conciliábulo dos vizinhos, que avistava de longe, e que decerto estavam a cortar na pele da pobre senhora! Parecia-lhe tudo aquilo exatamente a "Ária da calúnia" no Barbeiro de Sevilha: a calúnia ao principio leve como o frêmito das asas de um pássaro, subindo num crescendo aterrador até estalar como um trovão!

Dava agora voltas para não passar na rua, diante do Paula e da estanqueira; tinha vergonha deles! Encontrara o Teixeira Azevedo, que lhe perguntara:

- Então o Jorge quando vem? Que diabo! O rapaz fica por lá!

E aquela observação trivial aterrou-o.

Enfim, um dia, mais apoquentado, foi procurar Julião. Encontrou-o no seu quarto andar, em mangas de camisa e em chinelas, enxovalhado e esguedelhado rodeado de papelada, com uma chocolateirinha de café ao pé, trabalhando. O soalho negro estava cheio de pontas de cigarros; ao canto estava embrulhada roupa suja; sobre a cama desfeita havia livros abertos; - e um cheiro relentado saía do desmazelo das coisas. A janela de peitoril dava para o saguão, de onde vinha o cantar estridente de uma criada, e o ruído areado do esfregar de tachos.

Julião, apenas ele entrou, ergueu-se, espreguiçou-se, enrolou um cigarro, e declarou que estava a trabalhar desde às sete!... Hem? Era bonito! Para que soubesse o Sr. Sebastião!

- De resto chegaste a propósito.





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