O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 176 / 414

E ela?

- Bem. Um bocado aborrecida. O Jorge diz que ainda se demora. Tenho do muito só. Nem Julião, nem Conselheiro; ninguém. A D. Felicidade é que aparecido às vezes de fugida. Está agora sempre metida na Encarnação... Isto devota! - E riu.

Então onde ia?

- A umas comprazitas, à modista depois... - E apareça agora, Sebastião, hem?

- Hei de aparecer.

- À noite. Estou tão só! Tenho tocado muito, e o que me vale é o piano!

Nessa mesma tarde Sebastião recebeu uma carta de Jorge.

Tens visto a Luísa? Estive quase com cuidado, porque estive mais de cinco dias sem carta dela. De resto está preguiçosa como uma freira; quando escreve são quatro linhas porque está o correio a partir. Vai dizer ao correio que espere, que diabo! Queixa-se de se aborrecer, de estar só, que todos a abandonaram; que tem vivido como num deserto. Vê se lhe vais fazer companhia, coitada, etc.

No dia seguinte ao anoitecer foi à casa dela. Apareceu-lhe muito vermelha, com os olhos estremunhados, de roupão branco. Tinha chegado muito cansada de fora; tinha-lhe dado o sono depois de jantar; adormecera sobre a causeuse... Que havia de novo? E bocejava.

Falaram das obras de Almada, do Conselheiro, de Julião; e ficaram calados. Havia um constrangimento.

Luísa então acendeu as velas no piano, mostrou-lhe a nova música que estudava, a Medgé de Gounod; mas havia uma passagem em que se embrulhava sempre; pediu a Sebastião que a tocasse, e junto do piano, batendo o compasso com o pé, acompanhava baixo a melodia, a que a execução de Sebastião dava um encanto penetrante. Quis tentar depois, mas enganou-se, zangou-se; atirou a música para o lado, veio sentar-se no sofá, dizendo:

- Quase nunca toco! Estão-se-me a enferrujar os dedos!...

Sebastião não se atrevia a perguntar pelo primo Basílio.





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