O Primo Basílio - Cap. 7: CAPÍTULO VII Pág. 196 / 414

.. Teve um gesto de piedade desdenhosa.

- Há de lucrar muito com isso. Boa tola! - disse.

Juliana olhou-a espantada.

- "Está bêbeda! - pensou.

- Bem, que se lhe há de fazer? - exclamou Luísa. - Esperarei...

E passeando pelo quarto, excitada, revolvendo o seu despeito:

- Que egoísta, que grosseiro, que infame! E é por um homem assim que uma mulher se perde! É estúpido!

Como ele suplicava, se fazia pequenino, humilde ao princípio! O que são os amores dos homens! Como têm a fadiga fácil!

E imediatamente lhe veio a idéia de Jorge! Esse não! Vivia com ela havia três anos - e o seu amor era sempre o mesmo, vivo, meigo, dedicado. Mas o outro! Que indigno! Já a conhecia há muito! Ah! Estava bem certa agora, nunca a amara, ele! Quisera-a por vaidade, por capricho, por distração, para ter uma mulher em Lisboa! É o que era! Mas amor? Qual!

E ela mesma, por fim! Amava-o, ela? Concentrou-se, interrogou-se... Imaginou casos, circunstâncias; se ele a quisesse levar para longe, para França, iria? Não! Se por um acaso, por uma desgraça enviuvasse, antevia alguma felicidade casando com ele? Não!

Mas então!... E como uma pessoa que destapa um frasco muito guardado, e se admira vendo o perfume evaporado, ficou toda pasmada de encontrar o seu coração vazio. O que a levara então para ele?... Nem ela sabia; não ter nada que fazer, a curiosidade romanesca e mórbida de ter um amante, mil vaidadezinhas inflamadas, um certo desejo físico... E sentira-a, porventura, essa felicidade, que dão os amores ilegítimos, de que tanto se fala nos romances e nas óperas, que faz esquecer tudo na vida, afrontar a morte, quase fazê-la amar? Nunca! Todo o prazer que sentira ao princípio, que lhe parecera ser o amor - vinha da novidade,





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