O Primo Basílio - Cap. 7: CAPÍTULO VII Pág. 203 / 414

E como guiadas pelas duas linhas de pontos de gás que desciam a Rua do Alecrim, o seu pensamento, o seu desejo foram logo para o Hotel Central.

Estaria em casa? Pensaria nela? Se pudesse ir surpreendê-lo de repente, atirar-lhe aos braços, ver as suas malas... Aquela idéia fazia-a arfar. Entraram na Praça de Camões. Gente passeava devagar; sobre a sombra mais escura que faziam as árvores cochichava-se pelos bancos; bebia-se água fresca; claridades cruas de vidraças, de portas de lojas destacavam em redor no tom escuro da noite; e no rumor lento das ruas em redor, sobressaíam as vozes agudas dos vendedores de jornais.

Então um sujeito com um chapéu de palha passou tão rente dela, tão intencionalmente que Luísa teve medo. - Era melhor voltarem - disse.

Mas ao meio da Rua de São Roque o chapéu de palha reapareceu, roçou quase o ombro de Luísa; dois olhos repolhudos dardejaram sobre ela.

Luísa ia desesperada; o tique-taque das suas botinas batia vivamente a laje do passeio; de repente, ao pé de São Pedro de Alcântara, de sob o chapéu de palha saiu uma voz adocicada e brasileira, dizendo-lhe junto ao pescoço:

- Aonde mora, ó menina?

Agarrou aterrada o braço de Juliana.

A voz repetiu:

- Não se agaste, menina, onde mora?

- Seu malcriado! - rugiu Juliana.

O chapéu de palha imediatamente desapareceu entre as árvores.

Chegaram a casa a arquejar. Luísa tinha vontade de chorar; deixou-se cair na causeuse, esfalfada, infeliz. Que imprudência, pôr-se a passear pelas ruas de noite, com uma criada! Estava doida, desconhecia-se. Que dia aquele! E recordava-o desde pela manhã: o lanche, o champanhe bebido pelos beijos de Basílio, os seus delírios libertinos; que vergonha! E ir a casa de Leopoldina, de noite, e ser tomada na rua por uma mulher do Bairro Alto!.





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