O Primo Basílio - Cap. 7: CAPÍTULO VII Pág. 208 / 414

O Conselheiro, com um movimento ansioso, tirou profundamente o chapéu.

- É o presidente do conselho. Não viu? Fez-me um sinal de dentro. - Começou logo o seu elogio: era o nosso primeiro parlamentar; vastíssimo talento, uma linguagem muito castigada! - E ia decerto falar das coisas públicas, mas Luísa atravessou para os Mártires, erguendo um pouco o vestido por causa de uns restos de lama. Parou à porta da igreja, e sorrindo:

- Vou aqui fazer uma devoçãozinha. Não o quero fazer esperar. Adeus, Conselheiro, apareça. - fechou a sombrinha, estendeu-lhe a mão.

- Ora essa, minha rica senhora! Esperarei, se vir que não se demora muito. Esperarei, não tenho pressa. - E com respeito: - Muito louvável esse zelo!

Luísa entrou na igreja desesperada. Ficou de pé debaixo do coro, calculando: - "Demoro-me aqui, ele cansa-se de esperar e vai-se!" Por cima reluziam vagamente os pingentes de cristal dos lustres. Havia uma luz velada, igual, um pouco fosca. E as arquiteturas caiadas, a madeira muito lavada do soalho, as balaustradas laterais de pedra davam uma tonalidade clara e alvadia, onde destacavam os dourados da capela, os frontais roxos dos púlpitos, ao fundo dois reposteiros de um roxo mais escuro, e sob o dossel cor de violeta os ouros do trono. Um silêncio fresco e alto repousava. Diante do batistério um rapaz de joelhos, com um balde de zinco ao pé, esfregava o chão com uma rodilha, discretamente; dorsos de beatas, encapotados ou cobertos de xales tingidos, curvavam-se, aqui e além, diante de um altar; e um velho, de jaqueta de saragoça, prostrado no meio da igreja, rosnava rezas numa melopéia lúgubre; via-se a sua cabeça calva, as tachas enormes dos sapatos, e a cada momento, dobrando-se, batia no peito com desespero.





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