O Primo Basílio - Cap. 7: CAPÍTULO VII Pág. 209 / 414

Luísa subiu ao altar-mor. Basílio impacientava-se, decerto, pobre rapaz! Perguntou então, timidamente, as horas a um sacristão que passava. O homem ergueu a sua face cor de cidra para uma janela na cúpula, e olhando Luísa de lado:

- Vai indo para as duas.

Para as duas! Era capaz de não esperar, Basílio! Veio-lhe um receio de perder a sua manhã amorosa, um desejo áspero de se achar no Paraíso, nos braços dele! E olhava vagamente os santos, as virgens trespassadas de espadas, os Cristos chagados - cheia de impaciências voluptuosas, revendo o quarto, a caminha de ferro, o pequeno bigode de Basílio!... Mas demorou-se, queria "fatigar o Conselheiro, deixá-lo ir". Quando pensou que ele teria partido, saiu devagarinho. - Viu-o logo à porta, direito, com as mãos atrás das costas, lendo a pauta dos jurados.

Começou imediatamente a louvar a sua devoção. Não entrara porque não quisera perturbar o seu recolhimento. Mas aprovava-a muito! A falta de religião era a causa de toda a imoralidade que grassava...

- E além disso é de boa educação. Vossa Excelência há de reparar que toda a nobreza cumpre...

Calou-se; aprumava a estatura, todo satisfeito de descer o Chiado com aquela linda senhora, tão olhada. Mesmo, ao passar por um grupo, curvou-se para ela misteriosamente; disse-lhe ao ouvido, sorrindo:

- Está um dia apreciável!

E ofereceu-lhe bolos à porta do Baltresqui. Luísa recusou.

- Sinto. Todavia acho muito sensata a regularidade nas comidas.

A sua voz vinha agora a Luísa com a impertinência de um zumbido; apesar de não fazer calor, abafava, picava-lhe o sangue no corpo; tinha vontade de deitar a correr, de repente; e todavia caminhava devagar, infeliz, como sonâmbula, cheia de necessidade de chorar.

Sem razão, ao acaso, entrou no Valente.





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