Ai! Não estou nada contente, nada contente!
- Pois olhe que por lá também há desgosto grande - disse, baixando a voz, a do xale de quadrados.
Os dois homens aproximaram-se.
- O senhor - continuou ela com gestos aterrados - é um desaforo com a cunhada!... A senhora sabe, e aquilo são questões de dia e de noite! As duas irmãs andam numa bulha pegada. O homem toma as dores da rapariga; a mulher põe-se aos gritos... Ai! Aquilo vem a acabar mal!
- E então se a gente tem lá o seu descuido - disse o da gravata branca com indignação - é aqui del rei, e daqui e dali!
- Lá a sua gente é sossegada, Sr. João - observou a picada das bexigas.
- É boa gente. As raparigas namoradeiras... Proveito das criadas, apanham o seu vestido, a sua placa... Mas os velhotes é uma santa gente, a verdade é a verdade! E come-se bem!
E voltando-se para o trintanário, batendo-lhe no ombro, com uma voz que o admirava e que o invejava:
- Mas isto sim! Isto é que é levá-la! O rapazola sorriu com satisfação:
- Ora! São mais as vozes do que as nozes!
- Vá lá, mostra lá - disse o da gravata branca tocando-lhe com o cotovelo -, mostra lá!
O rapaz fez-se rogado, e depois de gingar da cintura, arregaçando a blusa, tirou do bolso do colete de riscadinho um relógio de ouro.
- Muito bonito! Rica prenda! - disseram as duas mulheres.
- Suor do meu rosto - fez ele, acariciando o queixo.
O da gravata branca indignou-se:
- Ora seu maroto! - E baixo para as raparigas: - Suor do seu rosto, hem! - É o serafim da patroa, uma senhora da alta que aquilo são tudo sedas, muitíssimo boa mulher, um bocado entradota, mas muitíssimo boa mulher; recebe destas lembranças, um relógio de um par de moedas - e ainda fala!
O rapazola disse então, enterrando as mãos na algibeira:
- E se quiser agora, há de largar a corrente!
- Há de lhe custar muito! - exclamou o da gravata branca.