E o futuro, estava certo! Aquilo era dinheiro, o pão da velhice. Ah! Tinha-lhe chegado o seu dia! Todos os dias rezava uma salve-rainha de graças a Nossa Senhora, mãe dos homens!
Mas agora, depois daquela cena com Luísa - não podia ficar de braços cruzados, com as cartas na algibeira. Devia sair de casa, pôr-se em campo, fazer alguma coisa. O quê? A tia Vitória é que havia de dizer...
Logo pela manhã às sete horas, sem tomar o seu café, sem falar a Joana, desceu devagar, saiu.
A tia Vitória não estava em casa. Gente na saleta esperava. O Sr. Gouveia, com a borla do barretinho muito arrebitada, escrevinhava, dobrado, cuspilhando o seu catarro. Juliana deu os bons-dias em redor, e sentou-se a um canto, direita com a sua sombrinha nos joelhos.
Conversava-se; e uma mulher de trinta anos, picada das bexigas, que estava sentada no canapé, depois de ter dado um sorriso a Juliana, continuou, voltada para uma gordita com um xale de quadrados vermelhos:
- Pois não imagina, Sra. Ana, não faz idéia! É uma desgraça! É todas as noites como um carro. As vezes até acordo com o barulho que ele faz a falar só, a tropeçar na escada... Eu, do que tenho mais medo, é que o demônio adormeça com a luz e haja um rogo. Ah! É de todo!
- Quem? - perguntou um rapazola bonito, com uma blusa de trintanário, que falava de pé a um criado alto, de suíças e gravata branca enxovalhada.
- O Cunha, o filho do meu patrão. É uma desgraça!
- Piteireiro, hem? - disse o rapazola, enrolando o cigarro.
- Um horror! Eu pela manhã nem posso entrar no quarto, que é um cheiro. A mãe, coitadinha, chora, rala-se; o rapaz já esteve para ser posto fora do emprego.