O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 235 / 414

- E partimos amanhã? - gritou Reinaldo.

- Amanhã.

- Por Madri?

- Por Madri.

- Salero! - Pôs-se de pé na tina, entusiasmado, a escorrer, e com movimentos aduncos de magricela saltou para fora, embrulhou-se no roupão turco. O seu criado William entrou logo, sutilmente, ajoelhou-se, tomou-lhe um pé entre as mãos, secou-lho com precauções, pôs-se respeitosamente a calçar-lhe a meia de seda preta com ferradurinhas bordadas.

Na manhã seguinte, um pouco antes do meio-dia, Joana veio bater discretanente à porta do quarto de Luísa, e com a voz baixa - desde o desmaio falava-lhe sempre baixo, como a uma convalescente:

- Está ali o primo da senhora.

Luísa ficou surpreendida. Estava ainda de robe de chambre, e tinha os olhos vermelhos de chorar; pôs num instante um pouco de pó-de-arroz, alisou o cabelo, entrou na sala.

Basílio, vestido de claro, sentara-se melancolicamente no mocho do piano. Trazia um ar grave, e, sem transição, começou a dizer: - que apesar de ela se ter zangado na véspera, ele considerava ainda tudo "como dantes". Viera porque naquele momento não se podiam separar sem algumas explicações, sobretudo sem resolver definitivamente o caso da carta... E com um gesto triste, como contendo lágrimas:

- Porque eu vejo-me forçado a sair de Lisboa, minha querida!

Luísa, sem olhar para ele, fez um sorriso mudo, muito desdenhoso. Basílio acrescentou logo:

- Por pouco tempo, naturalmente; três semanas ou um mês... Mas enfim tenho de partir... Se fossem só os meus interesses! - Encolheu os ombros com desdém. - Mas são interesses de outros... E aqui está o que eu recebi está manhã.

Estendeu-lhe um telegrama. Ela conservou-o um momento, sem o abrir; a sua mão fazia tremer o papel.

- Lê, peço-te que leias!

- Para quê? - fez ela.





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