- Ela, às vezes vai à casa de uma amiga, uma inculcadeira, para os lados do Carmo. Talvez lhe tivesse dado alguma, esteja mal. Mas também não mandar recado desde ontem pela manhã... Coisa assim! Eu podia ir saber...
- Pois bem, vá, vá.
Aquela desaparição brusca inquietava também Luísa. Onde estava? Que fazia? Parecia-lhe que alguma coisa se tramava em segredo, longe dela; que viria de repente estalar-lhe sobre a cabeça, terrivelmente...
Anoiteceu. Acendeu as velas. Tinha um certo medo de estar assim só em casa; e, passeando pelo quarto, pensava que àquela hora Basílio em Santa Apolônia comprava alegremente o seu bilhete, instalava-se no vagão, acendia o charuto, e daí a pouco, a máquina arquejando levá-lo-ia para sempre! Porque não acreditava "na demora de três semanas, um mês"! Ia para sempre, safava-se! E apesar de o detestar sentia que alguma coisa dentro em si se partia com aquela separação, e sangrava dolorosamente!
Eram quase nove horas quando a campainha retiniu com pressa. Julgou que seria Joana de volta; foi abrir com um castiçal - e recuou vendo Juliana, amarela, muito alterada.
- A senhora faz favor de me dar uma palavra?
Entrou no quarto atrás de Luísa, e imediatamente rompeu, gritando, furiosa:
- Então a senhora imagina que isto há de ficar assim? A senhora imagina que por o seu amante se safar, isto há de ficar assim?
- Que é, mulher? - fez Luísa, petrificada.
- Se a senhora pensa, que por o seu amante se safar, isto há de ficar em nada? - berrou.
- Oh, mulher, pelo amor de Deus!...
A sua voz tinha tanta angústia que Juliana calou-se.
Mas depois de um momento, mais baixo:
- A senhora bem sabe que se eu guardei as cartas, para alguma coisa era! Queria pedir ao primo da senhora que me ajudasse! Estou cansada de trabalhar, e quero o meu descanso.